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Quando a política climática encontra o debate público: perspectivas parlamentares sobre a comunicação climática nas Américas e no Caribe

12 de dezembro de 2025 | Atividade

Para a maioria das pessoas, as mudanças climáticas não entram em suas vidas por meio de relatórios científicos ou negociações internacionais. Elas se manifestam no cotidiano, seja no aumento dos preços dos alimentos, nas preocupações com a qualidade da água, na elevação das contas de energia ou nas dúvidas sobre se as políticas climáticas podem encarecer o custo de vida. É por isso que o desafio enfrentado por parlamentares não é apenas aprovar leis climáticas, mas explicá-las de forma relevante e confiável.

Esse foi o foco central de uma sessão recente do ParlAmericas, na esteira de uma série de reuniões pós-COP30, sob o tema Como Comunicar a Mudança Climática ao Eleitorado: Combatendo Mitos e Tomando Ações. Ao longo do intercâmbio, as e os participantes voltaram-se para uma preocupação comum: como comunicar a política climática de modo que ela faça sentido para a população e estimule a ação.

Desde o início, a discussão destacou que os compromissos climáticos internacionais só têm importância quando se traduzem em ações no plano nacional, sendo a comunicação uma peça fundamental nesse processo. Com base em sua experiência como participante da COP30, a Senadora Rosa Galvez (Canadá), Presidenta da Rede Parlamentar sobre Mudanças Climáticas e Sustentabilidade (RPMCS) do ParlAmericas, enfatizou que as e os parlamentares precisam explicar as metas climáticas em linguagem acessível, conectá-las às preocupações locais e assegurar que os governos cumpram suas promessas.

À medida que a sessão avançava, foi surgindo uma forte ênfase nas soluções. As e os participantes refletiram sobre como o enquadramento das ações climáticas a partir de respostas práticas pode favorecer o engajamento cívico, mesmo em meio à crescente onda de desinformação e ao ceticismo público. Moderado pelo Senador Anthony Vieira (Trinidad e Tobago), Vice-presidente para o Caribe da RPMCS, o diálogo explorou como os impactos climáticos se entrelaçam com as realidades sociais e econômicas locais, destacando o papel da sociedade civil organizada e da educação ambiental na transformação de metas climáticas de longo prazo em decisões que as pessoas possam reconhecer em seu dia a dia.

Essa mudança depende, em grande medida, de tornar a ciência climática mais próxima da realidade das pessoas. A Dra. Laura Ramajo, Vice-Presidenta do Comitê Consultivo Científico do Instituto Interamericano de Pesquisa sobre Mudanças Globais, chamou a atenção para os impactos desiguais das mudanças climáticas nas comunidades, destacando como fatores como condições de moradia ou a presença de deficiência podem moldar a resiliência e a exposição de uma pessoa às mudanças climáticas. Ela observou que a ciência encontra maior ressonância quando é ancorada em exemplos da vida real e desmascara mitos persistentes. A Professora Barbara Leckie, Diretora Acadêmica da Re.Climate, acrescentou que a ação climática atravessa todas as áreas das políticas públicas e que narrativas fortes e acessíveis de porta-vozes confiáveis, para além de tomadoras e tomadores de decisão, são fundamentais para superar preocupações relacionadas a custos e construir apoio público duradouro.

Essa ênfase em narrativas capazes de gerar identificação levou naturalmente a questões de credibilidade e confiança. Falar sobre as mudanças climáticas em termos diretos e concretos com o eleitorado, especialmente por meio de seus efeitos tangíveis no bem-estar e na subsistência das pessoas, revelou-se essencial para sustentar a confiança pública. O Dr. Rubén Contreras, Chefe da Seção de Mudanças Climáticas da OEA-SEDI, ilustrou esse ponto ao mencionar o aumento dos custos de seguros para cobrir danos causados por desastres como um exemplo claro de como os impactos das mudanças climáticas já estão afetando a sociedade. Ele enfatizou que responder a essas realidades exige uma cooperação mais forte entre as Américas e o Caribe para transformar compromissos internacionais em políticas bem financiadas e viáveis.

A principal lição desse diálogo? A comunicação sobre o clima não é um elemento acessório, mas parte central do trabalho parlamentar. Situando-se entre as negociações climáticas globais e as realidades locais, as e os parlamentares fazem a ponte entre ambição e viabilidade, evidências e ceticismo, objetivos de longo prazo e preocupações imediatas. Como observou o Senador Iván Flores (Chile), Presidente do ParlAmericas, o fato de a COP30 ter sido realizada na Amazônia ressalta tanto a importância ecológica do hemisfério quanto o desafio de construir credibilidade em sociedades marcadas pela desigualdade e desconfiança. A reunião mostrou como sua posição única permite que as e os parlamentares levem adiante os resultados da COP30, incluindo mudanças estruturais como a transição para longe dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que mantêm a ação climática fundamentada no diálogo democrático com o eleitorado. Não como uma agenda abstrata, mas como uma jornada compartilhada.

Esta reunião foi possível graças ao generoso apoio do Governo do Canadá, por meio de Assuntos Globais Canadá.